quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Figuras de vida.

Há alguns dias venho sentindo uma vontade quase incontrolável de escrever. Muito provavelmente, é um dos efeitos dessa nova forma de vida que vivo: longe de casa, longe da família, longe dos amigos. Aprendendo a viver sozinha, a dormir com a consciência de que não há alguém no quarto ao lado a quem eu possa gritar se me se sentir mal, a fazer novos amigos em pouco tempo, a falar em momentos em que eu me calaria. Aprendendo. E acho que essa é a tônica de estar fora por tempo determinado. Porque a gente sempre aprende alguma coisa, mas me parece que, estando longe e com tempo determinado para voltar pra casa, os aprendizados tornam-se mais intensos. É meio agora ou nunca, sabe? É o momento, é o lugar, é uma oportunidade maravilhosa, é um privilégio que precisa ser vivido, é uma felicidade extremamente grata, é uma tristeza desconhecida. Felicidade e tristeza juntas. Um paradoxo. Porém, o que é decidir dar um novo rumo à vida senão um paradoxo? O paradoxo de querer ir e querer ficar ao mesmo tempo. O paradoxo de querer se reinventar e de continuar sendo a mesma. O paradoxo de estar por 2 meses num lugar e sentir como se já estivesse há 2 anos. Contudo, não só paradoxo. Com tudo, outras figuras se revelam. A sinestesia doida do alegre azul de Lisboa. A Hipérbole dos pães. O eufemismo do “um ano passa rápido”. A metáfora diária dentro de mim. O pleonasmo de sentir os sentimentos. E a aula é dada todo dia. E, eu, nesse turbilhão de figuras, agradecida por ter a vida como uma boa professora.